quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Diário de Viagem Floripa a Ushuaia - Parte 1


Prezados amigos,:
13000 km, 30 dias, uma corrente, 3 pneus e muitas historias para contar. Esse foi o resultado da aventura que eu e o Guga fizemos.  As pessoas e cachorros que encontramos e as paisagens que vimos ficarão em nossas memorias para sempre. Passamos por dificuldades, porém tudo contribuiu para nosso crescimento como seres humanos. Compartilho aqui o diário de viagem com tudo que me lembro, tanto as coisas boas quanto as ruins, para que vocês possam fazer parte desta realização em nossas vidas.
Que venham as próximas!


Dia 1: 26/12/2012 - Florianópolis a Pântano Grande - RS
Em São José, pouco antes de chegar ao trevo de Forquilhinhas, começamos a realizar um rápido check-list e descobrimos que o Guga havia esquecido de trazer a identidade. Como seria impossível sair do país sem ela, demos meia volta e fomos buscá-la em sua casa, no centro de Floripa.
Pegamos um caminhão tombado no Morro dos Cavalos, o que nos forçou a utilizar o “corredor”. De repente um fotógrafo desesperado quase se joga na frente da moto pedindo carona, mas quando ele percebe que nem no meu colo poderia ir me dá um sorriso meio sem graça e me libera.
A viagem segue tranquila até aproximadamente a cidade de Osório RS quando começa a chover. Infelizmente constato que o barato às vezes sai caro e descubro que minha bota não é tão impermeável quanto achava que era. Quando paramos em um posto após Porto Alegre meu pé estava encharcado. Perco alguns minutos para secar tudo e realizar uma pequena cirurgia na bota, adicionando silver-tape, sacos plásticos, capa de bota e prendedor de calça.
Continuamos na chuva até a cidade de Pântano Grande. Compramos umas frutas, jantamos num restaurante beira de estrada e fomos para o “hotel”. Lá cheguei à conclusão que realmente o barato sai caro: embora estivesse informando que era à prova d’água, meu intercomunicador xing-ling parou de funcionar por causa da chuva.





Dia 2: 27/12/2012 - Pântano Grande a Uruguaiana
Chove toda tarde no Rio Grande do Sul!
Após nosso exagerado, porém barato, almoço rumamos oeste debaixo de chuva pesada. A cirurgia na bota melhora, mas não completamente, sua impermeabilidade. A estrada fica mais tranquila e a paisagem vai mudando de áreas urbanas para pastagens verdes com várias partes alagadas. Coloco um hotel em Uruguaiana no GPS (que está enrolado em um saco plástico por causa da chuva).
Após darmos entrada e nos limparmos, jantamos em uma pizzaria ao lado do hotel. Antes de dormimos vimos que o intercomunicador do Guga também pára de funcionar. Coloco meus dotes gambiarrísticos em prática e consigo fazer com que ambos os comunicadores funcionem, porém o meu não desliga mais e os botões não funcionam.






Dia 3: 28/12/2012 - Uruguaiana a San Francisco
Acordamos, tomamos nosso reforçado café da manhã, arrumamos nossas coisas nas motos e nos dirigimos à fronteira com a Argentina. Lá chegando são solicitados nossos documentos. Depois descobriríamos que somente nesse momento é que nos seria solicitado o seguro carta-verde, nos deixando em dúvida quanto à sua obrigatoriedade.
Após os trâmites migratórios trocamos por volta de 1300 pesos argentinos cada (devíamos ter trocado muito mais!). Enquanto eu inseria no GPS o destino do dia, o Guga larga na frente. Como haviam várias saídas ele resolve voltar e me esperar em um posto próximo. Em um momento de distração dele, passo e acelero pois acho que estou bem para trás. Agora imagine a cena, eu correndo para tentar alcançá-lo e ele correndo para me alcançar. Andamos assim por vários quilômetros até que resolvo parar em um posto para abastecer.
Quando estava saindo do posto, olho pelo retrovisor e avisto uma moto. “Vai que é ele” - penso. E era mesmo. Se tivesse saído sem esperar talvez só nos encontrássemos em Santa Fé, ou não, já que o GPS e o mapa da Argentina estavam comigo.
Aliviados por termos nos reencontrado seguimos juntos em direção à Santa Fé. No meio do nada avistamos ao longe uma blitz da polícia caminera. “Coisa boa não deve ser” - pensei comigo. O policial chegou cumprimentando e perguntando coisas da viagem. Uma cordialidade fora do comum. Enquanto ele me vendia o código de trânsito argentino por 50 pesos, os outros dois tentavam fazer o mesmo com o Guga. Eu, muito solícito, comprei sem pestanejar. O pnc do Guga se fez de desentendido e ainda disse aos guardas que eu que era o homem do dinheiro!
Já com fome, chegamos a um restaurante na cidade de Federal. Achamos estranho ele estar vazio. Depois percebemos que na Argentina além de se comer mais tarde, há a diferença no fuso horário!
Passamos pelo túnel por baixo do Rio Paraná que liga as cidades de Paraná e Santa Fé. Após longas retas que testavam o limite do nosso sono. Chegando à cidade de San Francisco coloquei o Hotel Canadian no GPS. Realizamos o check-in, desfizemos as malas, tomamos um banho, jantamos algo e resolvemos dar uma volta na cidade. Detalhe: sem capacete! Ao que parece o capacete é meio “opcional” em cidades menores. Após nossa aventura ilegal, voltamos ao hotel e fomos dormir.




Dia 4: 29/12/2012 - San Francisco a Santa Rosa de Conlara
Arrumamos nossas coisas e rumamos oeste pela RN 19. Paramos em La Francia para tomar um café. Lá encontramos dois simpáticos velhinhos, Bella e Elton, que nos acolheram como se fôssemos seus filhos retornando da guerra.
Para evitar o tráfego, resolvemos passar pelo entorno de Córdoba. Após tocamos pela RN 20 que cortava uma cadeia de montanhas, com paisagens lindas onde sentimos uma grande mudança na temperatura. Paramos diversas vezes para tirar fotos, inclusive de dentro de um tubo por onde corria um rio.
Em Mina Clavero o Guga pára em um mercadinho e não percebo. Após um tempo olho para trás e não o vejo. Espero por alguns minutos e resolvo voltar para procurá-lo. Quando chego no mercadinho lá está ele, belo e formoso. Ainda em Mina Clavero, abastecemos as motos e, ao tentar sacar dinheiro, o cartão do Guga é recusado.
Continuamos a viagem pela RN 20 e RN 148 até Santa Rosa de Conlara, onde o GPS nos indicou a pousada “El Patio Olmos”, muito aconchegante e charmosa. Tomamos nosso banho e fomos fazer compras em um mercadinho próximo (que não passou o cartão do Guga). O Guga fez uma ótima carne de panela que comemos saboreando duas cervejas Andes, uma Pilsen e uma Porter. Alimentados, ficamos “viajando” junto com os vaga-lumes à beira-rio até 1 da madrugada.







Dia 5: 30/12/2012 - Santa Rosa de Conlara a Uspallata
Continuamos pelas RN 148, 20 e 7 até Mendoza. Estas pistas eram duplicadas e muito bem conservadas com retas intermináveis e poucos carros (quase igual ao Brasil). De Mendoza a Uspallata pela RN 7 experimentamos uma grande variação na temperatura (de 40 C a 14 C). Esta rota é bastante charmosa pois segue o traçado de um rio por entre as montanhas e através de vários túneis.
Chegando em Uspallata, arranjamos um camping e, pra variar saímos pra comprar algo em um mercadinho. Nesse meio tempo o Guga conseguiu resolver o problema de seu cartão - ele não havia sido habilitado para uso internacional.
Jantamos Penne com molho vermelho e atum (não foi uma combinação muito boa) e tomamos um vinho, já que estávamos bem próximos à uma ótima zona produtora.









Dia 6: 31/12/2012 - Uspallata a Laguna Verde
Levantamos empolgadíssimos já que finalmente conheceríamos a famosa Cordilheira dos Andes. Apesar de toda a expectativa ela ainda conseguiu nos surpreender. As paisagens são maravilhosas, mesmo sem a neve que cai no inverno. Às vezes aquilo tudo parecia ter sido criado em computador.
Pegamos o túnel que liga a Argentina ao Chile, uma grande obra feita pelo homem que complementa toda a beleza do lugar. Na aduana, em uma das paradas, devido a todo o peso da bagagem, deixo a moto tombar. Depois do susto, realizo o resto dos procedimentos migratórios e, atravéz da famosa “Los Caracoles” descemos a cordilheira rumo ao Oceano Pacífico.
Passamos por Viña del Mar e seguimos para uma praia próxima chamada Laguna Verde. Demos várias voltas até encontrarmos um “camping”. Na verdade era um grande terreno que o dono disponibilizava para quem quisesse acampar por uma módica quantia. A parte ruim era que só havia um banheiro e com água extremamente gelada.
Tomamos um “banho de gato” e rumamos para Valparaíso para ver os fogos. Quem já foi sabe o emaranhado de ruas que é a cidade. O GPS no entanto nos colocou praticamente na cara do gol. Estacionamos a menos de 200 metros da festa. Neste momento acontece um caso interessante conosco. Um casal de “flanelinhas” nos aborda solicitando dinheiro para cuidar das motos. Demos uma de desentendidos e eles começaram a ficar um pouco irritados, quase nos ameaçando. Quando “explicamos” que éramos estrangeiros e não entendíamos espanhol (balela) eles foram se acalmando. Quando os pagamos então, eles se tornaram nossos amigos de longa data!
Com as motos seguras fomos ver os fogos. Creio que tenham sido o mais longo show pirotécnico que já vi (25 minutos) e um dos mais bonitos. Notamos que os chilenos são muito patrióticos, eles repetiam várias vezes: chi-chi-chi le-le-le, Chile, Chile!













Dia 7: 01/01/2013 - Laguna Verde a Talca
De café da manhã comemos o resto da janta do dia anterior, estava uma delícia! Depois desfizemos o acampamento e tocamos rumo Santiago. Passamos pela mesma estrada cheia de curvas até Valparaíso. Ela corta um precipício só que agora conseguimos ver a bela paisagem.
Almoçamos pollo e papas fritas (frango com batatas fritas) no centro de Santiago em restaurante pé-sujo, já que parecia estar praticamente tudo fechado por causa do primeiro dia do ano, inclusive Shoppings. De barriga cheia resolvemos rumar para o Parque Metropolitano. No caminho passamos por uma rua com vários barzinhos estilosos que nos fizeram lembrar do nosso pé-sujo do almoço.
Após uma cochilada e sessão de fotos no parque, atravessamos a cidade e pegamos a Ruta 5 sentido sul com a cordilheira dos andes sempre nos nos acompanhando à esquerda. O clima estava seco e quente por isso andávamos sem as mangas das jaquetas.
À tardinha, lá pelas 19 hs,  quando começou a esfriar procurei por acomodações no GPS e escolhi o Hostel del Sur, em Talca. Na cidade passamos em um posto BR para abastecer (viva o Brasil!) e rumamos para o hostel pois estávamos bem cansados. Lá chegando conhecemos o Sr Luis que nos levou ao nosso quarto nos fundos de sua casa. Nos chamou a atenção as roupas e diversos objetos muçulmanos.
Após o banho bateu aquela lomba e resolvemos jantar os amendoins que o Guga havia trazido. Conectamos na Internet do hostel e enquanto falávamos com o pessoal de casa sentimos um pequeno tremor de terra. Novidade pra nós mas muito comum no Chile.




Dia 8: 02/01/2013 - Talca a Pucon
Neste dia continuamos seguindo para o sul pela Rota 5. Lá pelas 11 hs da manhã, tomamos o melhor café da manhã dos últimos dias, um cheese carne e nescafé num pequeno restaurante à beira da estrada. Só fomos comer novamente lá pelas 15 hs em um posto bastante conhecido no Chile, um lanche industrializado e sem sabor, bem diferente do nosso café da manhã.
Na cidade de Freire, logo antes da saída da Rota 5 para a Ruta 199 que leva a Villarica e Pucon, paramos em um mercadinho e perguntamos por um local para fazer lanche. O rapaz que estava no caixa nos levou a um “restaurantezinho” próximo. Era um lugar meio estranho, com entrada através de uma escada estreita. Lá dentro vimos 2 homens mal na fita realizando brincadeiras “sacaninhas” com duas mulheres à mesa. Olhei pro Guga e ambos pensamos a mesma coisa: estávamos em uma zona! E isso às 16 hs em plena luz do dia! Como achamos que o lanche seria caro e nossas mulheres não gostam que frequentemos estes ambientes sem elas, decidimos ir embora com fome e jantar mais pra frente.
Seguindo pela Ruta 199, que é toda de pista simples e asfaltada, avistamos ao longe o Vulcão Villarica, uma imagem espetacular que nos acompanhou até nossa chegada em Pucon. Lá perguntamos por algumas pousadas e decidimos ficar no Hostal Marjorie, que de hostel só tem o banheiro compartilhado. Banheiro este com uma bela vista para o vulcão.
Uma coisa que nos chamou a atenção em Pucon  foi que a maioria das edificações eram feitas de madeira. Isso se deve ao fato dela ser um isolante térmico muito melhor que a alvenaria, o que é ideal para as baixas temperaturas da região no inverno (entre 2 e 7 graus centígrados).
Depois do banho no hostel, fomos, a pé, procurar um bom restaurante para jantar. Pedimos Cordero e Chorizo com papas fritas e tomamos umas cervejas no centro da cidade. Depois disso fomos dar uma volta na cidade e uma viajada na praia (de lago).









Dia 9: 03/01/2013 - Pucon
Como já estávamos há mais de uma semana na estrada resolvemos tirar o dia para descansar em Pucon. Acordamos tarde e saímos para almoçar acompanhados por nossos amigos caninos. Como eu sou esfomeado e o Guga muquirana, almocei em um bom restaurante e ele algumas coisas que comprou no mercado. De nada adiantou ele ter economizado, já que o cafezinho que tomamos depois foi o olha da cara.
Demos novamente uma passeada pela cidade (agora durante o dia) e pela praia de lago. Detalhe: o lago é muito gelado e a “areia” da praia é de pedrinhas pretas. Lá pelas 18 hs, o que ainda é dia nessa latitude, fomos tomar um banho nas águas termais. Devido ao mapa simplificado que usamos para navegação, passamos da entrada e andamos uns 5 km no rípio até encontrarmos uma alma caridosa que nos indicou o local correto.
Junto ao rio Liucura encontra-se a estância termal chamada  “Los Pozones”. Chegamos a ela descendo por uma escada de 100 metros pelo vale de Liucura. Lá avistamos 7 piscinas de diferentes tamanhos fabricadas com rochas em estilo rústico. A temperatura da água varia de 30 a 42ºC, o que pode ser perigoso às vezes já que dá uma moleza no corpo.
Jantamos no mesmo restaurante que eu havia almoçado e fomos atendidos pelo mesmo garçom. Durante a alta temporada ele trabalha de guia, por isso se comunicava conosco em portunhol e ficava nos chamando de “Brasil”.
















Dia 10: 04/01/2013 - Pucon a Villa la Angostura
Com as energias renovadas após um dia de descanso, retomamos nossa viagem pela Ruta 199. Devido ao Paso Cardenal Antonio Samoré (entre Puyehue no Chile e Villa la Angostura na Argentina) ter pego fogo, havia uma enorme quantidade de pessoas no Paso Mamuil Malal, a fronteira escolhida por nós. Levamos mais de 1:30 para realizar os procedimentos migratórios do Chile para a Argentina, quando normalmente levaríamos 15 minutos.
Um alento para a nossa espera era a maravilhosa vista do vulcão Lanín com seu topo nevado. Ele está situado na divisa entre os dois países, é símbolo da província de Neuquén na Argentina e sua altitude é de 3776 metros. Crê-se que sua última atividade foi em 540 DC e por isso é considerado um vulcão ativo.
Depois dos 25 km de rípio na fronteira seguimos para Junin de los Andes na Argentina, onde almoçamos em um restaurante pé-sujo. A comida era farta e boa o que nos deu um pouco de sono mais a diante na estrada.
Asfalto até San Martin de los Andes onde paramos para tirar umas fotos da cidade e do lago Lacar a partir do precipício por onde a estrada passa. Dos 110 km até Villa la Angostura passamos por cerca de 40 km de rípio que nos deixou completamente empoeirados e a trepidação fez com que o cabo que carrega o GPS parasse funcionar.
Ao chegarmos a Villa la Angostura coloquei o camping Osa Mayor no GPS que fica nos arredores da cidade. Levantamos acampamento e saímos para dar uma volta na cidade e  comprar nossa janta no mercado. Jantamos um delicioso cozido, bebemos um vinhozinho e fomos dormir o sono dos justos.














Continua.....